Primeiro de Maio e Escala 6x1 / LASInTec / Massacre de Paraisópolis / A Gambiarra da Destruição
Novidades, automarketing ou boas sugestões de leitura? Você decide
Salve salve a todas e todos que acompanham essa singela newsletter. As últimas semanas foram de muita correria e muita coisa interessante aconteceu por aqui. Na falta de tempo para escrever algo mais específico resolvi divulgar essas novidades. Tem um tanto de automarketing, confesso, mas também acredito que sejam sugestões de leituras bastante relevantes e/ou interessantes. Espero que gostem. Bom final de semana e boas leituras!
Brasil Visceral
Estreou na quarta-feira (7) a Brasil Visceral, minha coluna no Desinformémonos - site independente de notícias do México que aborda os movimentos sociais, ambientais, territoriais e políticos mexicanos e de toda a América Latina. Estarei por lá nas primeiras quartas-feiras de cada mês hablando sobre o Brasil. Agradeço demais ao companheiro Raul Zibechi pelo convite e pela confiança. Uma honra na verdade, pois sou muito fã do trampo dele. Fico até sem palavras para agradecer pelo convite.
Confere no link abaixo!
Brasil Visceral: Sobre el Día del Trabajador en el Estado brasileño [Desinformémonos]
Leia o artigo em português abaixo.
O Brasil é um país que não conta sua história para as crianças e jovens nas escolas. Desde a invasão portuguesa, iniciada em abril de 1500 e chamada de “descobrimento”, passando pelas inúmeras revoltas de indígenas, africanos escravizados, camponeses e operários, há uma operação em larga escala para higienizar os fatos passados de cara aos comportamentos atuais.
Um desses episódios que nos escondem ocorreu em 1917. Foi uma greve geral, organizada em São Paulo inicialmente pelos operários do Cotonifício Rodolpho Crespi, no bairro da Mooca.
No início do século XX, as fábricas brasileiras estavam sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eram lugares onde se admitia trabalho infantil, jornadas superiores a 14 horas diárias e outras práticas hoje consideradas análogas à escravidão. Em 1917, paralelamente à Revolução Russa, o movimento operário paulistano, de hegemonia anarcossindicalista, organizou uma greve geral contra aquelas condições de trabalho que parou as maiores cidades brasileiras e impulsionou uma série de campanhas nos anos seguintes contra a exploração capitalista.
‘Curiosamente’, esse movimento é pouco conhecido. Não ensinam nas aulas de História. Para saber sobre ele é preciso estar fortemente envolvido com movimentos sociais, escutar a história de alguém e ir atrás das fontes. E isso tem uma explicação.
Nos anos 30, com Getúlio Vargas [o caudilho brasileiro] no poder, foi concedida a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como uma forma de apaziguar aquele ciclo de lutas iniciado anos antes. A narrativa oficial é de que o, assim chamado “Pai dos Pobres”, do alto do seu altruísmo, ofereceu uma “dádiva” ao “povo sofrido” - estabelecendo em lei uma jornada máxima de 8 horas diárias (48 horas semanais), entre diversos outros direitos trabalhistas concedidos naquela ocasião ou incorporados ao longo das décadas seguintes, como o décimo terceiro salário em 1962. À época, os meios de incomunicação [entre eles O Globo] diziam que o Brasil quebraria com a nova lei trabalhista.
Décadas mais tarde, em 1988, quando saíamos da ditadura empresarial-militar iniciada em 1964, a Assembleia Constituinte tentava diminuir a jornada de trabalho para 40 horas semanais, ao contrário das 48 horas vigentes durante o desgraçado período dos generais. Essas 40 horas equivaleriam a jornadas de 8 horas diárias ao longo de cinco dias da semana. Mas os parlamentares e constituintes, com sua política sempre fiel a quem os financia, negociaram um ‘meio-termo’ para o texto final: as atuais 44 horas semanais que, na prática, com pequenos ajustes contratuais permitidos pela Reforma Trabalhista aprovada durante o Governo Temer (2017), impõem novamente jornadas de 8 horas diárias (às vezes 10, 12) durante 6 dias por semana. A isso se chama “escala 6x1”.
Mesmo sem ter total ciência do seu próprio passado de lutas, a juventude da presente década se revoltou contra a “escala 6x1”. Mesmo ignorada pelos meios de incomunicação e pela via institucional, começou a se organizar para colocar a pauta no debate público. Muito conectados, os jovens passaram a fazer relatos nas redes antissociais sobre seu cotidiano como caixas de supermercados, balconistas de farmácia, atendentes em call centers, entre outros ofícios.
Um desses jovens, Rick Azevedo, é oriundo das periferias do Rio de Janeiro. Seu relato emocionado sobre a humilhação que passava todo santo dia como balconista duma farmácia carioca ganhou milhões de corações nas redes. Azevedo então aproveitou o momento para propor a criação do “Movimento VAT” – Vida Além do Trabalho. Desnecessário dizer que a adesão dos jovens é massiva e as tentativas de deslegitimização por parte da política e da imprensa são constantes. Mesmo assim, o jovem de 20 e poucos e anos e nenhuma posse se elegeu vereador de sua cidade em outubro de 2024 com a esperança de levar a pauta para as instituições.
Encontrou apoio em Erika Hilton, deputada federal por São Paulo. Mas a morosidade da política institucional e sua sanha em engavetar a demanda fizeram com que a luta contra a “escala 6x1” permanecesse nas ruas. Mal passou um mês das eleições e os jovens tomavam as principais capitais do país em novembro passado dizendo em alto e bom som, como na foto que ilustra essa coluna, que “não vão trabalhar até morrer”.
Outra frase de efeito é: “só pararemos de lutar no dia que você puder ver mais o seu filho do que o seu chefe”.
À direita, disseram que o fim deste regime de trabalho vai quebrar o Brasil. À esquerda, um pouco mais criatividade: pediram que a pauta seja tratada exclusivamente no Congresso Nacional para que não se crie “um novo junho de 2013”.
Nas festividades do último Primeiro de Maio, quando o apoio fica instagramável, todos embarcaram no Movimento VAT. Gleisi Hoffmann, deputada estadual e ex-presidenta do PT de Lula, prometeu dar prioridade à pauta no Congresso. A ver.
Em todo caso, dificilmente os jovens trabalhadores precarizados sairão das ruas. Caso uma nova lei que está sendo votada extingua a “escala 6x1”, invariavelmente a pauta será desmobilizada – claro, as vidas desses trabalhadores devem registrar algum nível de melhora. Mas, se por um lado não há garantias nesse sentido, por outro lado razões para lutar não faltarão se tiverem dois dias livres por semana.
Igual a um jogo de futebol, é uma disputa constante por pequenos espaços no campo de jogo.
Também não faltaram razões para seguir mobilizados 90 anos atrás, quando o movimento operário entrou na sua fase antifascista, crítica ao governo Vargas e de combate ao “integralismo” – ideologia análoga ao fascismo criada no Brasil e que alçou Vargas ao poder. Já com a CLT em vigor, em outubro de 1934 ocorreu um segundo episódio que nos escondem: a Revoada das Galinhas Verdes, quando o movimento operário dispersou uma marcha integralista que ocorria no centro de São Paulo.
Em todo caso, o principal desafio dessa atual geração aparentemente será seguir mobilizada independente do que aconteça, e entender o tamanho da sedução que a política institucional e o sucesso nas redes pode oferecer – e em muitos casos enterrar reivindicações como vimos no recente processo constituinte do Chile.
E para além de possíveis desdobramentos, me intriga imaginar como (e se) essa história será contada daqui algumas décadas.
Massacre de Paisópolis no Le Monde Diplomatique Brasil
Quem tem acompanhado o Erro Zine desde o começo sabe que estou acompanhando o caso do Massacre do Baile da Dz7, em Paraisópolis, e como tem sido difícil colocar a pauta nos nossos meios de comunicação. Mas dessa vez deu certo. E graças do Luís Brasilino, editor do Le Monde Diplomatique Brasil, que não hesitou em dar espaço. A matéria está publicada na versão online do jornal.
Agradeço demais pela publicação, foi realmente muito importante um meio de comunicação de respeito como o Le Monde Diplomatique Brasil ter dado voz às famílias das vítimas.
O caso, para além das perdas de 9 jovens inocentes e do luto eterno e irreparável das suas famílias, também expressa a exclusão social e a negação do direito à cidade e à cultura como um verdadeiro showbizz eleitoral para entreter as classes médias - com as forças de segurança na ponta de lança. Também se trata de um sistema de justiça falho, desenhado desde o registro do b.o. até o tribunal para livrar a cara de agentes do Estado que cometem crime mas que, dessa vez, pelo excesso de provas, pode ter um desfecho diferente.
A matéria é bem completa e detalhada. Leia com atenção.
LASInTec
Outra novidade que gostaria de compartilhar com vocês é que desde o final de abril estou trabalhando como assessor de comunicação do LASInTec, o Laboratório de Análise em Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento, da EPPEN-UNIFESP em Osasco. Espetacular, já os havia entrevistado anteriormente para reportagens que saíram na Fórum e no Correio e, cada um no seu ofício (eu como jornalista, eles como pesquisadores), estamos de olho nas mesmas pautas e questões.
O laboratório desenvolve pesquisas corajosas e com uma forma de interpretar muito interessante, especialmente para aquelas pessoas que buscam uma forma não policialesca de olhar para a questão da segurança.
Para além de pesquisar as próprias polícias, os militares e os aparatos securitários do Estado, também estão de olho nos seus macabros efeitos em nossa sociedade. Um deles, o Massacre de Osasco e Barueri, maior chacina da história paulista, completa 10 anos no próximo mês de agosto e faz parte de umas das linhas de pesquisa do laboratório.
Ao longo do ano vou contando em maiores detalhes cada informação ou pesquisa que estiver a caminho da imprensa. Agora gostaria de compartilhar a estreia (também em 7/5) da Coluna LASInTec no Ponte.org - portal de notícias de extrema importância e relevância na cobertura desses mesmos temas. Um textação escrito coletivamente pelos pesquisadores. Leitura obrigatória para entender o mundo atual. Leia abaixo.
Coluna LASInTec | Cães de guarda e o policiamento hightech [Ponte.org, 07/05/2025]
Conheça o site do LASInTec e siga o laboratório aqui no Substack e nas outras redes sociais: Youtube, Instagram, Twitter e Bluesky.
A Gambiarra da Destruição - 2ª edição
Bolsonaro está acabado, moribundo, inelegível, semi-preso e corno. Até a própria direita o está abandonando aos urubus, única espécie de nossa fauna capaz de engolir esse tipo de carniça sem passar mal, de olho na cadeira vaga de “rei dos imbecis”. Nem pra isso ele serve mais, e mesmo assim o último show hospitalar do Palhaço Bozo ganhou ares de “cobertura séria” nos meios de incomunicação.
No bojo desse rápido contexto, vimos incontáveis protestos internáuticos nas redes antissociais. “Precisamos tratar o Bozo como ele merece, não como se fosse alguém relevante para o debate público”, era uma demanda comum. Ainda podíamos ver cartazes digitais com os dizeres: “Pena que ele não vai ser preso pelos seus crimes da pandemia”. Pois se você é um desses dois tipos de manifestantes EAD, que torcem contra o New Brazil, seus problemas acabaram!
Em “Cronicavirus in New Brazil - A Gambiarra da Destruição”, trato Bolsonaro e o bolsonarismo da forma como sempre deveriam ter sido tratados: com ironia, sarcasmo e achincalhamento explícito. Por vezes vulgar, por vezes engraçado, me recuso a levar nossas “vítimas imaginárias” a sério.
Além disso, o livro foi escrito nos primeiros meses de Covid-19, ainda em 2020, fazendo uma paródia das notícias reais que apareciam nos meios de incomunicação num momento em que o Show do Palhaço do Bozo se encontrava em estado puro (e de putrefação). Então, é claro, te ajudará a lembrar dos crimes da pandemia.
Publicado à época na editora Monstro dos Mares, um pequeno coletivo editorial anarquista do sul do Brasil, o livro está esgotado e indisponível tanto na editora como em possíveis lojas. Mas pedi aos companheiros que imprimissem uma singela “segunda edição” de 10 exemplares, que coloco à venda para dar aquela forcinha nas contas. Apoie meu trabalho!!
Adquira sua GAMBIARRA DA DESTRUIÇÃO!
Com apenas 50 reais e uma rápida troca de mensagens, te envio o livro e também o pôster da obra, produzido pelo meu irmão Binz com técnicas de stencil.
Escreva para raphaelsanz13@gmail.com (ou mande inbox em qualquer rede social) para desenrolarmos o pix e o endereço. Depois deixa comigo.


Abaixo, a descrição do livro conforme publicado à época pela editora.
A Gambiarra da Destruição é composta por onze crônicas escritas entre março e agosto de 2020, retratando de forma extremamente irônica e em meio ao calor dos acontecimentos os primeiros seis meses de pandemia. Escrita praticamente em código, as crônicas não dão nomes aos bois, apenas apelidos (e haja gado!). De toda forma, qualquer observador atento pode compreender a obra, que trata dos principais fatos e tragédias que estiveram em evidência nos meios de incomunicação, nas redes antissociais e na boca dos bozólogos e deformadores de opinião como um todo, para manter as expressões utilizadas pelo autor. Mas apesar do recorte temporal e factual, as piadas e reflexões colocadas também podem assumir um caráter atemporal, uma vez que dialogam também com o passado e o futuro em relação ao período narrado.
“O objetivo dessa obra é o de que ninguém, absolutamente ninguém, nem eu mesmo, seja levado muito a sério politicamente, diferentemente do que são e querem os fascistas: um bando de palhaços que exigem urras e aplausos o tempo inteiro”, declarou o autor para a Editora Monstro dos Mares.
Nas palavras de Gabriel Brito, editor do Correio da Cidadania ao lado do autor, este livro contém “humor e sagacidade para rir do pior ano das nossas vidas. Ao percorrer as páginas deste livro o leitor poderá ter a sensação de que toda a indignação e estupefação diante do governo mais absurdo da história do Brasil foram traduzidas de forma até óbvia. Mas não é fácil escrever com humor sobre aquilo que, de fato, está nos corroendo como corpo social. Menos ainda nos tempos hiperprodutivistas que vivemos, nos quais todo avanço tecnológico parece apenas significar mais trabalho”.
Cronicavírus in New Brazil: A Gambiarra da Destruição
Raphael Sanz
Editora Monstro dos Mares
96 páginas
ISBN: 978-65-86008-11-1
OBS: Este não é um livro de humor sobre a pandemia, pura e simplesmente. Não somos loucos de fazer graça com a morte e o sofrimento de centenas de milhares de brasileiros. Essa obra é uma sátira justamente contra aqueles que nos fizeram chegar a essa tal situação catastrófica.